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UMBANDALOGIA – SARAVÁ, UM PASSADO.

O maior questionamento da comunidade umbandista contemporânea aponta para sua própria identidade. Quais as transformações de fato contribuíram para este universo de dúvidas que paira sobre os filhos de Pemba?

Fragmentos históricos apontam que a prática umbandista ou a boa e velha macumba permaneceu semanticamente estagnada entre as décadas de 50 e 80, principalmente no eixo Rio de Janeiro e São Paulo. Saravá era por excelência a saudação usual a uma entidade e entre os irmãos umbandistas, termo substituído nos dias atuais por expressões de saudação da cultura africana de nação nas roças de candomblé ou entre o “povo de santo”. É comum obter no interior das próprias tendas a utilização de tais saudações africanizadas precariamente justificadas na feitura ou obrigação do respectivo (a) zelador (a) ou dirigente espiritual nas religiões de matriz africana (Candomblé, Ifá, etc….). Saudações como Mukuiu da cultura Angola, Motumbá, Mojubá e Axé da cultura Nagô e Kolofé da cultura Jeje são as mais usuais, no entanto, usual também é o desconhecimento de boa parte dos irmãos de Pemba sobre a etimologia e semântica destes termos. Em outras tradições como o catolicismo se usa Amém, no Judaismo Shalom, no Islã Salaam e no hinduísmo Namastê, tanto como saudação como cumprimento, mas, sem qualquer crise de identidade.

Todas estas palavras ou termos podem carregar-se de magia pelo que os nagôs denominam de poder de ofô (magia que sai da boca do ser humano preparado para dizê-la), ser usada para desejar ou pedir boas coisas, como benção, saúde, felicidade, dinheiro, amor, alegria, paz, vida e sabedoria. Neste mesmo conceito, os antigos umbandistas saudavam, cumprimentavam-se, compunham e cantavam seus pontos com a expressão mágica Saravá. Se pelo conceito generalizado das culturas podemos analogamente afirmar a sua semântica, etimologicamente temos tentativas de alguns especialistas em gramatica remontar o universo da senzala alegando ser uma corruptela da palavra portuguesa “salvar”, cujos escravos tinham dificuldade de pronunciar, e diziam “salavá”. Sob a influência da fonologia banta, passou a se falar “Saravá”, para desespero e raiva dos puristas gramaticais. Outra tentativa é oriunda da vertente esotérica da Umbanda que a define como mantra, assim, são palavras especiais vocalizadas de maneira específica que produzem certos fenômenos de imantação e desagregação; são sons místicos ou sagrados, ou seja, sons específicos que elevam o espírito e significa: SA (Força, Senhor), RA (Reinar, Movimento)  (Natureza, Energia) ou força que movimenta a natureza. Talvez esteja aí uma boa justificativa para a desagregação da interjeição na comunidade umbandista quando doutrinaram este som como místico e sagrado para quem o produz, não despreocupadamente, mas essencialmente num espaço que prima à elevação do espírito em detrimento, por exemplo, a saudade desta pronuncia pelo eterno cantor e compositor Vinicius de Moraes para exprimir especificamente uma saudação: viva ou salve!

Outros tantos elementos foram desagregados do cotidiano umbandista e que influenciam diretamente suas raízes, sincretismos e mirongas. A saudação ou cumprimento Saravá é apenas a linha mestra que o estudo Umbandalogia suscita a reflexão dos filhos de Pemba.

Que as forças da Umbanda Sagrada nos permita desvelar um bom passado, para um melhor presente e um excelente futuro.

Saravá Umbanda, Saravá Congá…

Silnei Aparecido Farkas é teólogo formado pela Pontifícia Faculdade de Teologia NSA Assunção de São Paulo, e cursa regularmente a formação sacerdotal ministrada na FUCESP.

FUCESP – Federação de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo 2015

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